sábado, 29 de setembro de 2012

Um belo dia


As garras ávidas do destino
Nos arrastam desprevenidos,
Para longe, bem longe,
De caminhos conhecidos.
Num relance quase agonizante
Vejo o filme da minha vida,
No labirinto infinito do ser imigrante,
Muitas vezes, beco sem saída.
Pelos olhos da minha alma
Passam imagens voando a mil,
Como tempestade de chuva calma,
Transbordo de saudades do Brasil.
O consolo traz suscetíveis lembranças
De um ou outro momento de paz.
Esqueceu-se de esperar, a esperança,
De voltar ao que ficou para trás.
Na embriaguez sempre delirante
Dos meus sonhos acordada,
Revelam-se paisagens eternas,
Belas, cuidadosamente guardadas.
Vejo as ondas de Copacabana,
Pintadas em múltiplos tons de verde,
Numa sinfonia de ritmos diversos,
Transformam-se em espelho vivo do Universo.
Vagueio livre, sigo em frente,
E respiro bem profundamente
A brisa de todo aquele imenso mar,
Que sempre vai, mas insiste em voltar.
Da Pedra do Arpoador
O sol nasce lindo todo dia.
Só o respeito que há no silêncio,
Para entender tanta magia.
Nesta viagem emocionante
Me transporto a Ipanema,
Onde o sol se põe deslumbrante,
Como um eterno poema. 
O doce balanço da garota famosa
Estava na cadência daquele mar.
Só Vinicius e Tom para captar
Os encantos de uma cidade maravilhosa.
Na minha visão pra lá de surreal
Paro de repente extasiada.
Me deparo com um monumento nacional:
O Dois Irmãos no fim da estrada.
Rio lindo de janeiro a janeiro
Sinto saudades de ti,
Do Brasil de corpo inteiro,
Do Oiapoque ao Chuí.
No Nordeste vejo a noite descer no sertão,
A última lamparina a se apagar em Minas.
Sentindo o cheiro forte do chimarrão,
Ando a passos largos na São João.
Saudades demais … as minhas
Vão muito além do meu lugar.
Faltam tantas coisas nas entrelinhas
Que não dá nem para explicar.
Sinto falta das festas que entram noite afora,
Do pão quentinho da padaria,
Dos almoços aos domingos com a família,
Dos amigos sinceros de todas as horas.
A minha alma é morena,
Brasileira, de coração.
Da última geração à primeira,
Uma verdadeira paixão.
No luscofusco, céu e mar se unem
No derradeiro suspiro do dia.
À realidade de súbito me trazem,
Fazendo da minha saudade poesia.
Exílio inevitável,minha doce agonia,
Vigia o exímio desejo incansável,
Que guarda no peito a certeza,
De voltar para o Brasil … um belo dia.

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